Se estivesse vivo Piazzolla seria um senhor de 89 anos. Com certeza estaria tocando! Até pouco tempo atrás eu imaginava que músicos como Rostropovich, Menuhin, Grapelli, entre outros, tivessem vida eterna pois praticamente morreram tocando... De fato possuem sim, no legado musical...
Me lembrei de Piazzolla pois o Quarteto Itamaraty incorporou em seu repertório o Tango-Ballet, uma de suas primeiras peças influenciadas por Nadia Boulanger, com quem estudou na França. Essa influência acabou trazendo o tango para uma classificação bem próxima ao gênero popular mas com vários elementos da música dita erudita, o que enfureceu os "milongueiros" mais tradicionais. Diziam que o que Piazzolla fazia era qualquer coisa, menos tango. Ele rebatia: "Eu toco a música de Buenos Aires e a música de Buenos Aires é o tango!"
Pois bem, resolvi ouvir algo dele, a título de pesquisa, para ver (e ouvir) se não teria algo que poderia contribuir na nossa interpretação e me deparo com essa grande obra: "La Muerte del Angel"
Tem várias músicas que se pode trabalhar a questão da textura para leigos, entretanto, a produção de músicas polifônicas no século XX e XXI é praticamente nula se considerar todo o mercado fonográfico. Mas, como o filho de "Nonino" trabalhou com vertentes eruditas em sua música, sua produção tem muita coisa polifônica, como exemplo, Fuga y Misterio. Observe a desenvoltura de Piazzola em "Muerte del Angel"
Updated in 03/05/2011: O usuário retirou o vídeo original do YouTube então coloquei outro com as "correções" nos segundos abaixo...
0:04 - Violino começa sozinho com uma base rítmica até simplificada;
0:15 - Bandoneon (parecido com o acordeão) trabalha com a mesma ideia musical que o violino apresentou. Chamamos isso de sujeito. O que o violino está fazendo chama-se contra-sujeito;
0:25 - A guitarra também apresenta o sujeito, portanto, o bandoneon faz o contra-sujeito. Não é idêntico ao do violino mas é bem semelhante;
0:35 - Até lembrando o concerto pra 2 violinos, de J.S. Bach pois o sujeito apresentado no grave é trabalhado com mais instrumentos, no caso, contrabaixo, piano e até mesmo o violino volta ao sujeito para reforçar ainda mais;
0:42 - Uma passagem em forma de ponte para a transição da textura polifônica para a homofônica, ou seja, alguns instrumentos vão servir de base para outros;
0:49 - A homofonia é finalmente instalada. Violino e bandoneon são os responsáveis pela melodia. Observe que os outros instrumentos praticamente se recolhem para sar "espaço" aos solistas;
1:20 - A movimentação da música é interrompida. Apenas o bandoneon, de uma forma mais livre, trabalha a melodia;
1:49 - O violino passa a fazer parte do "bolo" realçando a performance do bandoneon;
2:12 - Acontece a reexpoisção, ou seja, ele volta ao tema do mesmo local onde a homofonia apareceu pela primeira vez.
Em termos de texturas não há mais mudanças mas existem outras nuâncias do ponto de vista tímbrico e harmônico, com algumas modulações, etc... Quem sabe não falo desses outros elementos depois?
quinta-feira, 18 de março de 2010
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